12/03/2011

a canção do anquilosado

 os primeiros traços de sentimentos
apareceram na América do Sul
depois de Cristo e do fogo
em meados de Nunca –
aproximadamente quando Nada era
uma unha sonhando com algo
que viria a ser sua liberdade,
o dedo

ali, entre o calor e um defeito
no chão
resultado dos primeiros esforços
de um movimento – um abano refrescante
uma fúria casta, um sino
feito do barulho da violência
com que um lápis de cor vermelho
se esfregava na casca branca do
bambu – o primeiro registro
de uma religião, ou do  seu imediato
abandono – uma pegada
fez com que uma beleza caísse
exatamente na pegada

flor de sola,
filhote de espelho ou
o pé barulhento
pavão em coma profundo
nomes diferentes para um rebento de suspiro
e para aquela manjedoura nascida morta.
a pegada,  de uma espécie de impossibilidade
vertebrada, sudorífera e caolha
sapateou para a visão da espécie
fazendo com que seus olhos escutassem
e logo gritassem por mamas

feitiço de um segundo
feitiço de um cegobundo

chegando as mamas,
a espécie notou que as mamas não eram
pois eram um pouco mais que mamas
o que foi terminantemente decisivo
para que a espécie nascesse de Novo
um processo da cartilagem conhecido como tragédia
(onde também se explica a origem da pele
que nada mais foi que a putrefação
dos lábios, que nasceram de um beijo
em estado de vegetação)

cercada de calor em forma invisível
restou o próprio corpo para tocar
o que deu ao cara
pescoço
para uma flexão discreta e fugidia
onde a cabeça pendeu para frente;
e desse ângulo só dava pra ver
a promessa

(ti)
o cara tinha a promessa
mas não adiantava ter
o que exigiu uma lei, um modo de avistar
a própria promessa com cuidado
o que foi fatal

(mi)
esse mínimo cuidado – ele não o teve
ou sendo mais honesto com a História
não retomou.
e forçando a jugular para o centro maravilhoso
embocou
e sentiu a cabeça morrer
com as raízes se soltando da terra
sem qualquer dívida de gratidão;
algum escapável vulto espalhou-se
pelas florestas e precipícios
do Brasil, nos Glabros do Delírio
e já morto o monge soube, dormente,
que antes e depois do mel de gosto amargo e uivo
ele havia criado;
as palavras nasceram conforme o desejo de palavras
urdiu,
e daquele modo submerso
ele olhou para a poesia
e olhou para o poeta

(dez)
e despistadamente
ali estava a Confusão,
sem caráter, síntese, ou pente –
apenas um pênis amador
roçando de leve
tudo
e a dor
com um sêmen transparente

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