17/03/2011

anusgonia

aperfeiçoaste o mel
transformando-o em fios
descobriste o banheiro
(pois foi Eu quem o criou)
criaste a palavra “miçanga”
(pois foi Eu quem a criou)
assonetaste o mar
num diagrama 3x4
velejaste pelo véu vermelho de tuas veias
vaiaste a ré que deram os lobos
que não toleraram ter seu ser
em nem mais uma fábula
voaste e os lobos não alcançaram tua vaia, tiveste cãibra
vaiaste os viados e te alcançaram
após despertar de sonhos intranqüilos
viste a ti metamorfoseado num
crítico monstruoso
não conseguiste, com tua tenaz,
ferir os olhos da voz da Björk
no seu novo álbum
ressuscitaste São Francisco e sodomizaste teu irmão
até a morte e o antes o prazer
prolongaste o prazo do prazer até para sempre
salvaste teu irmãozinho
operaste as amígdalas
fossilizaste teus abortos
prostraste os teus joelhos à tua próstata invisível
embora o Senhor seja tangível
e tocante
tosquenejaste

enquanto voavas
tosquenejaste
beijaste a bochecha do céu, esqueceste esse teu único
ato espontâneo
e esqueceste esse outro:
logo caçoaste e com teu olho-culatra
enxergaste nuvens em forma de cu
cuidaste do sátiro abortado da cintura para cima,
alimentando o viril serafim da cintura pra baixo,
e sua auréola rude
dispuseste em meu altar
chocolate falso, um “heterossexual” e tuas olheiras
mexeste comigo com essas tuas olheiras
mexeste muito, mexeste demais comigo, oh
que queda da casa de Usher
que queda

cumulaste teu cabelo
de amoras malignas
proclamaste: aí o adjetivo é particularmente
traiçoeiro

então eu, o Senhor teu Deus
fiz o que tinha que fazer
e nunca me arrependi:
imitei tuas olheiras e morri

mas sempre há mais uma estrofe
a contragosto de muitos conta-gotas

transformaste o banheiro
num cubículo infinito
e você fez eu fazer um p.s.
e botar nele a verdade

e enquanto continuaste a criação
desta vez com ó mil sóis
colhi amoras
debaixo dos cabelos dos teus caracóis

 

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