03/05/2011

a canção das quelíceras

arranquei uma por uma minhas oito patas de uma vez
amarrei uma linha de baba de cetim nos pulsos e fiz
um buquê e ele subiu até destampar a masmorra.
uma por uma minhas oito patas de uma vez amarrei
uma linha de baba de cetim um por um nos pulsos e
fiz um buquê e ele subiu até destampar a masmorra.
uma por uma minhas oito patas amarrei uma linha de
baba de cetim em cada uma nos pulsos e fiz um buquê
e ele subiu. arranquei e uni e subiu e olhei elas
subindo. e depois elas destampando. arranquei e
arranquei de mim até a palavra-chave. a palavra
chave subiu na verdade o molho, o molho que
arranquei de mim sem ajuda do chaveiro, o molho
subiu de minha autoria eu assinei e enviei e ainda me
sobraram pés à espera na verdade já ganindo já
cavando quase correndo só não porque como. o
molho de chaves índice de um livro em busca do
tempo perdido na verdade eu me gabo de ter lido ele
eu sou profundo. a gente não passa ileso talvez só leso
e a aristocracia da existência temperaria toda minha
falcatrua com uma pintada de. não, com um molho
inconcebivelmente puro. exatamente, puro de um
modo inconcebível, já que se falou que o que foi
concebido é fruto da impureza, querida carrie. meu
balde derramaria em você a verborragia que consegui
matando o porco com uma borracha vagabunda.
ainda bem que bem vagabunda porque a cesura ficou,
o papel não voltou a ser branco. o porco que o
chaveiro desenhou na página do meu diário quando
ele estava desocupado e eu ocupado. eu disse meu
chaveiro? o porco, e por que “derramaria” se
derramei se derramara, consumadíssimo e sua dor
proscrita para meu deserto, os males, as malas. não
não disse meu chaveiro mas disse agora meu. sem
ajuda disse sem auxílio auxílio eu tive auxílio eu tive
para ir ao cílio daquele chaveiro burro, e lamber a
lágrima já seca. mas ajuda, é que auxílio é uma
palavra com uniforme, e ele dizia que o sonho dele
era usar um uniforme, aí agora chegou a parte da
revelação final, ele não dizia que seu sonho era usar
um uniforme coisa nenhuma e eu não lambi sua
lágrima já seca coisa nenhuma e o porco sim o porco
no meu diário como? oxe a coisa mais fácil do mundo
nós viramos amigos eu passei a ir todo dia
religiosamente às 5 da tarde quando ele já recusava
clientes e então eu falava de em busca do tempo
perdido e ele ficava desenhando no meu diário que eu
dava pra ele enquanto eu falava mas só a página em
branco era dele e o resto eu não me importava não
dava tempo de ele manobrar as páginas e ler. sem
ajuda de ninguém pois ninguém está me ajudando a
não perder o ritmo disto. mas eis que. o molho subiu
sem ajuda mas estarei eu me gabando por repetir sem
ajuda sem ajuda este deserto onde carrie medita? eu
disse a ele que estava liberto do bullying ele me disse
que era macho mas que também já tinha sofrido
bullying. mas o molho eu arranquei de mim sem ajuda
dele quando ele esteve ocupado e eu desocupado
quando ele esteve ocupado em amar o porco e não eu
em de repente descobrir que era um artista isto é não
tão de repente pois ele sempre desenhara porcos mas
eu disse as pérolas eu disse você tem o dom e ele
olhou pela primeira vez para o porco com aquele
olhar de será e viu deus que era bom. mas são coisas
diferentes eu disse a mim são coisas totalmente
desligadas uma da outra e todas importantes será que
isto é o “o artista deve evitar se apaixonar por outro
artista” Marina? sem ajuda dele porisso sangue fora
de cogitação, igual a muito. mas isso me leva a cantar
Imature e isso me levou a cantar Imature enquanto
arrancava uma por uma das patas da viúva-negra
virgem eu minha vida meu amor pelo chaveiro que
descobria através deste mecenas ser único, e seu
porco único, e minha ascese um laudo de purificação,
ah e eu cantei e louvei a Björk ou fiei um véu e deixei-
o de lado, era o suficiente e tão imaturo. porque to
think he could replace/the missing elements in me
porque to think he could replace/the missing elements
in me porque to think he could replace/the missing
elements in me e depois fiz versos que me mantinham,
“este é o procedimento de minhas ficções e do seu
soluço cilíndrico criminosamente deixado em meu
colo impossibilitado de rolar/o espelho desce o
declive até desaguar no delta onde o narval espera
com seu dente/ andei sobre o rosto do Imperador
Tamarin até me tornar seu bigode” e eu quis fazer
tudo mesmo só, eu quis fazer a surpresa, então deixa
ele lá no canto dele enquanto eu faço aqui o molho
ancestral e então eu chamo ele e ele vai provar e
amar. eu imaginei e desejei a profanação do molho
puríssimo e isto invocava ele e seu corpo e não o
porco não estava excluído, talvez estivesse tão incluso
quanto minhas palavras e minha fenomenologia e a
dele também apesar de ele ignorar o que
fenomenologia fosse ele um chaveiro chapado nós
dois com maconha comprada com o dízimo que nós
achamos no meio-fio, e depois com o suor do nosso rosto,
com o dinheiro dos consertos e meu trabalho
de construtor de carruagens em holograma. mas por
motivos escuros ele não veio o molho secou e então
eu peguei meu diário e apaguei o porco com a
borracha e depois procedi com o ritual satânico.
arranquei uma por uma minhas oito patas de uma vez
amarrei uma linha de baba de cetim nos pulsos e fiz
um buquê e ele subiu e me sobraram ainda pés
perfumados de sangue de cometa, ele me disse que o
sonho mais massa que ele tinha sonhado foi quando
ele sonhou que uma galinha com pés de rodinha
corria atrás dele com uma faca, mas como eu não me
amputaria? meus pés não podiam voar, só se o vento
tivesse ventosas, e ele afinal era podólatra. eu
preservei. então arranquei minhas oito patas e fiz um
cacho de balões e soltei e elas subiram e você chegou
e me disse por que não me esperou e limpou todo o
sangue com o véu e tirou a cueca e disse que os
motivos escuros eram só uma quermesse que sua
mãe faz todo ano depois da quaresma e que estava
precisando de uma massagem e eu usei os pés e você
me disse que tinha lido meu diário e eu usei a faca

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